Denúncias trazem à tona casos de uso de veículo oficial para visitas à manicure, excursões ao Paraguai e outras irregularidades Uso de veículos oficiais para visitas à manicure, placas com iniciais visando à promoção pessoal, nomeações para cargos “fantasmas”, acomodação de parentes em cargos públicos e até excursões ao Paraguai em micro-ônibus pertencentes à frota escolar. O que pode parecer inicialmente ações dignas do personagem Odorico Paraguaçu, um político corrupto e cheio de artimanhas, interpretado por Paulo Gracindo na novela O Bem Amado, de Dias Gomes, são cenas reais protagonizadas por prefeitos do interior do Paraná.
Um exemplo de ação que lembra o folclórico prefeito da fictícia Sucupira é um decreto assinado no ano passado pelo prefeito de Pitanga, na Região Centro Sul do estado. No documento, a mulher do presidente da Câmara de Vereadores da cidade foi nomeada diretora de um hospital municipal. Detalhe: o hospital não existe.
Denúncias envolvem ainda a prefeitura de Candói, no Centro-Sul do estado. Oito veículos foram emplacados com os números 4545, com a dezena utilizada pelo PSDB, partido do prefeito Elias Farah Neto. Em Foz do Jordão, o prefeito Anildo Alves da Silva, filiado ao PMDB, está sendo investigado por emplacar os veículos oficiais com as iniciais do nome e a sequência 1515.
Papel do eleitor é fundamental para fiscalizar governantes
A proximidade das eleições eleva o número de denúncias de supostas propagandas irregulares de prefeitos, principalmente pela atuação dos oposicionistas. As práticas proibidas, no entanto, são desencadeadas muitas vezes assim que o mandatário toma posse do cargo para o qual foi eleito.
O prefeito da cidade, Altair Zampier, disse que não havia dinheiro para aparelhar o hospital, que foi transformado em um “centro de medicina alternativa”. “Nós nomeamos ela para este cargo por considerar que o hospital iria funcionar. Ela trabalha e é uma profissional séria e comprometida”, disse o prefeito.
No mesmo enredo poderia ser adicionada a cena da secretária de Saúde de Farol, Fátima Renilda da Silva, abordada por policiais militares quando estava na manicure, em um salão de beleza de Campo Mourão. Para ir até o local, distante 30 quilômetros de sua cidade, ela utilizou um carro da prefeitura que era necessário para o transporte de um paciente do município, que se encontrava em estado grave de saúde. Na mesma cidade, a prefeita Dirnei de Fátima Gandolfi Cardoso não se incomodou em liberar os micro-ônibus escolares, doados pelo governo do estado, para excursão de sacoleiros ao Paraguai.
Herança
“A política do Paraná é retrógrada e ainda vinculada ao coronelismo. Mesmo em centros maiores, o estilo monopolizador e autoritário de Aníbal Khury [ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado, morto em 1999] está presente”, analisa o cientista político e professor da PUCPR Mario Sergio Lepre. Para ele, essa cultura é ainda mais forte no interior do estado. “Essa cultura toma dimensões ainda maiores e os ocupantes de cargos se consideram como pessoas diferenciadas que podem fazer o que bem entenderem com o bem público, sem dar satisfações. E o que é pior: a população desses municípios é conivente com os absurdos. Por ser amigo do prefeito e ter acesso a ele pessoalmente, solicitando favores, o cidadão esquece os desvios e participa de um relacionamento nefasto e pernicioso”, analisa.
Para Lepre, os desmandos administrativos no interior do estado refletem as ações negativas dos políticos de Brasília. “Eles tomam como exemplo a carreira de José Sarney. Acusado de inúmeras mazelas no trato com a coisa publica, ele continua no comando. Este é o espelho”.
O professor avalia que nos pequenos municípios a ação paternalista e assistencial está enraizada na cultura paranaense. “O setor público é ineficiente e para conseguir algo, o cidadão tem que ter certo compadrio com o prefeito. Essa relação o torna ‘amigo’ do ocupante do cargo público e ele acaba fechando os olhos para a má gestão”. Lepre destaca ainda que o acesso à cidadania, com seus direitos e deveres, ainda não chegou ao interior. “Situações como essas de Pitanga e Farol parecem irreais e até cômicas. Em grandes centros, com a vigilância da sociedade, da imprensa e dos observatórios sociais que começam a surgir em cidades de médio porte, isso dificilmente ocorreria sem que houvesse a manifestação popular.” Ele cita como exemplo a repercussão da série Diários Secretos, produzida pela Gazeta do Povo e RPCTV. “A imprensa e a sociedade estavam atentas e o material trouxe uma nova mentalidade no modelo de gestão da Assembleia
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