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sábado, 7 de abril de 2012

As 14 capelas do santuário de Bento


Templo construído por um imigrante português, nos Campos Gerais, tem entrada gratuita e faz parte do turismo religioso da região.

Ao longo de um corredor de grama baixa, cercado por muitas árvores, 14 capelinhas feitas de pedra contam a história de um imigrante português que viveu no Paraná. Elas, durante o ano todo, fazem parte do roteiro religioso de várias excursões. Dispostas na forma de uma grande cruz deitada, as construções compõem o Santuário do Senhor Bom Jesus do Monte, localizado em Vieiras, comunidade situada a 35 quilômetros de Palmeira, nos Campos Gerais.
Biografia
Uma história transmitida de geração em geração
A busca de Bento Luís da Costa por uma vida melhor começou cedo. Nascido em 1884, aos 12 anos de idade, ele saiu da Vila de Sampaio de Merlin, em Portugal, e veio para o Brasil. Seu destino era Curitiba, onde trabalharia com o tio. “Antes de embarcar, ele recebeu da mãe um rosário que ela sempre usava no pescoço e, da irmã, um lencinho com uma mensagem de carinho bordada”, conta a biógrafa de Bento, Marilis do Rocio Costa, casada com um dos netos dele.
Em Curitiba, Bento logo começou a trabalhar na Fábrica de Chapéos e Chapéos de Sol Bento Braga e Cia, localizada na Rua XV de Novembro, 47. “Ele apanhava muito desse tio. No final da adolescência, revoltado com a situação, ele chegou a se esconder nas Ruínas de São Francisco. Numa ocasião, ele quase foi para o Rio de Janeiro, onde embarcaria para Portugal tão pobre como quando chegou”, conta Marilis, que finaliza um livro sobre a vida do imigrante.
Entretanto, Bento foi convidado para trabalhar com Amadeu Teixeira Pinto, dono de um armazém em outra localidade. “Os dois pegaram o trem e foram para Vieiras”, lembra a biógrafa. Além de patrão, Bento considerava Amadeu como um irmão. Com ele, o jovem português aprimorou a leitura e a escrita e ainda teve lições de administração que levou para a vida toda. Nos Campos Gerais, Bento montou o próprio comércio e teve uma serraria.
Nome mantido
Já idoso, ele voltou com a família para Curitiba. Bento faleceu em 1974, aos 90 anos. Segundo Marilis, ele pediu a toda a família que o nome dele fosse perpetuado pelas gerações. “Eu sou nora do Bento Filho, casada com o Bento Neto, mãe do Bento Bisneto. Já o meu neto, achamos por bem recomeçar tudo. O nome dele é igual ao do trisavô: Bento Luís da Costa”, salienta. São os familiares que conservam o santuário em Vieiras.
Curiosidades
Cada construção guarda fatos que marcaram a vida do imigrante
Bento Luís da Costa procurou manifestar a gratidão por suas conquistas nas capelas que ergueu no santuário de Vieiras. Algumas delas chegam a ser curiosas, como a dedicada à Nossa Senhora das Graças, inaugurada em 13 de abril de 1952, em que comemora os 50 anos da conquista do primeiro lugar em duas corridas de bicicleta em Curitiba.
Bento dedicou outra capelinha à Santa Amélia e ao cinquentenário da chegada de sua esposa, Amélia, a Vieiras. Na parede, um texto de 1941, copiado do antigo Almanaque Ross, diz: “Ai do homem que faça chorar uma mulher boa, porque Deus conta suas lágrimas”.
Contudo, não apenas para a sua família e para a sua história Bento reservou as capelas. Na construção dedicada a São Benedito, inaugurada em 13 de maio de 1962, um dos aniversários da abolição da escravatura, o imigrante português presta uma homenagem aos escravos e manifesta a sua indignação pela humilhação sofrida por eles durante séculos no Brasil.
O santuário foi idealizado por Bento Luís da Costa, falecido há 27 anos. Essa foi a forma que ele encontrou para agradecer as graças que recebeu durante os cerca de 50 anos que viveu em Vieiras. Dedicada a Bom Jesus do Monte, a mais antiga e a maior das capelas foi inaugurada em 29 de janeiro de 1935. Ela faz referência ao santuário português de mesmo nome situado na cidade de Braga, visitado por Costa quando menino – local que também inspirou a construção do Santuário Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (MG).
As demais capelas, propositalmente iguais, foram erguidas no entorno da primeira. As construções comportam, sem esbarrões, no máximo três pessoas. Cada uma guarda particularidades religiosas e parte da vida do imigrante português. Uma história que pode ser conhecida por qualquer visitante, já que o santuário tem entrada franca e as portas das capelas nunca são trancadas. Não há dificuldade para saber a que as capelas se referem. Costa deixou o significado de todas registrado nas paredes.
História pessoal
A inauguração da primeira capela, por exemplo, coincide com os 25 anos do casamento de Bento com Amélia Wood Costa (leia sobre as outras capelas nesta página). Um manuscrito amarelado conta que, por se tratar de uma propriedade particular, a missa de Bodas de Prata não poderia ser celebrada lá sem o consentimento do arcebispo de Curitiba, Dom Ático da Rocha. Como era amigo do arcebispo, Bento conseguiu a autorização.
Bento e Amélia tiveram seis filhos. Aos 92 anos, Othília Costa Cordeiro é a única viva. “Ele [Bento] era um homem muito generoso. Jamais esqueceu o que a mãe e o pai lhe ensinaram”, lembra a filha.
O santuário também reserva espaço para os dons artísticos da família. Duas pinturas – uma de São Francisco Sales e outra de Nossa Senhora Aparecida – mostram uma técnica que preserva um brilho que salta aos olhos. “Isso é resultado da técnica que nós utilizamos. A pintura foi feita sobre uma folha de papel alumínio que foi amassada e depois aberta. Aprendemos isso com as irmãs do Colégio Sant’Ana, em Ponta Grossa”, explica Othília, autora de uma das obras.

Serviço

Dia de festa: Palmeira comemora hoje 193 anos. O Santuário do Senhor Bom Jesus do Monte, localizado a 35 quilômetros da cidade, em Vieiras, é uma boa opção para quem estiver pela região. O conjunto de capelas fica a 115 quilômetros de Curitiba, na BR-277, entre Palmeira e Irati. Fica aberto o dia todo, com entrada franca, e dispõe de banheiros e um barracão com mesas e churrasqueiras.

Em Palmeira, a festa ocorre no Complexo Esportivo Municipal, na PR-151, próximo ao posto Guapo. Lá, segue até amanhã a 5ª Expo Palmeira, uma feira de indústria, comércio e agronegócio. A entrada é gratuita e a programação conta com vários shows de duplas sertanejas e outras atrações.

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