EDUCAÇÃO
Arthur Monteiro/ Agência Senado
Senador Cristovam Buarque (PDT)
O senador, ex-governador do Distrito Federal e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque permanece fiel a si mesmo. Continua defendendo uma das suas bandeiras mais caras, a exemplo da federalização do ciclo básico. E que o ensino superior seja deslocado do Ministério da Educação (MEC) para o Setor de Ciência e Tecnologia. “Quem assume o MEC vira refém das universidades”, diz, sobre a pressão política que ronda o setor. Motivo: o terceiro grau dá mais votos que o ensino básico. Mesmo assim, não desiste. Admite que não se candidataria mais ao Senado, mas que de bom grado se arriscaria mais uma vez à Presidência da República. “Eu o faria para debater o ensino com a população.”
Cristovam Buarque esteve em Curitiba no início deste mês a convite do Grupo Uninter. Na ocasião, concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo. Confira.
O senhor é presidente da Frente Parlamentar Pró-Antártida, a ProAntar. Diante da recente tragédia envolvendo a base brasileira naquele continente é comum surgirem questionamentos sobre a necessidade de desenvolver pesquisas fora do Brasil. Como o senhor responde a isso?
Primeiro não é fora do Brasil. A base é um pedacinho do nosso país. Em segundo lugar, um país tem de fazer pesquisa para a humanidade inteira, não apenas para si mesmo. Temos de dar nossa contribuição. A pesquisa espacial dos EUA não foi feita só para os norte-americanos, valeu para a humanidade toda. Além disso, o Brasil fortalece sua presença mundial com a base na Antártida.
É comum se falar sobre o descaso dos governantes com a educação, mas em 2006 o senhor teve pouco mais de 2% dos votos, mesmo se colocando como o candidato do ensino. O resultado refletiu a pouca importância que o povo dá ao tema?
De fato, educação não é um tema com o qual a população se preocupe. Somos acostumados a tratar com menosprezo quem é estudioso, chamamos de CDF e de outros nomes. Aqui é mais fácil dizer que uma pessoa culta é doida do que dar valor ao que ela diz. Acho que isso dificultou minha eleição. Mas o motivo principal é que enfrentei Lula e Alckmin. Perto deles eu era um desconhecido, vindo do Distrito Federal, que é o menor colégio eleitoral do Brasil. Mesmo assim, no final, tive mais votos do que previa. As pesquisas apontaram o tempo todo 1%. Na apuração eu consegui 2,5%.
Em 2006, quando o senhor foi candidato à Presidência da República, uma de suas propostas mais comentadas foi a da federalização da educação básica. O senhor ainda defende essa ideia?
Não defendo a federalização das escolas que estão aí. Seria inviável. Defendo uma nova rede federal de educação, com novos concursos para a contratação de pelo menos 100 mil professores recebendo um salário em torno de R$ 9 mil. Não vejo outro caminho. Há muita desigualdade entre os municípios brasileiros. Como é que a gente vai jogar nas costas de um pobre prefeito o destino de uma criança que nasceu naquela cidade. Além disso, precisamos também de uma carreira nacional para o professor. Não dá para seguir uma carreira municipal. Sou autor da lei do piso salarial para professores. Sei que R$ 1,4 mil é muito pouco e que muitos prefeitos não têm como pagar. Vamos pagar menos por causa disso? Não. O governo federal tem o dinheiro, pode pagar.
Antes de assumir o Ministério da Educação, o ministro Aloízio Mercadante chegou a sugerir que o ensino superior passasse para o comando do Ministério de Ciência e Tecnologia, enquanto o MEC ficaria apenas com a educação básica. Essa sugestão é coerente com a sua ideia?
A ideia é minha. Convenci o Mercadante disso. Quando o Lula me chamou para assumir o MEC, em 2002, pedi para ser ministro apenas da educação de base e passei a defender a migração do ensino superior para a pasta de Ciência e Tecnologia. O Mercadante adotou a proposta, passou adiante, mas parece que depois de ter assumido o MEC ele não quer perder as universidades. Vai cometer um grave erro. Ficaria na história se fosse o ministro só da educação de base e a transformasse. Mas como ministro do MEC atual ele vai ser aprisionado pela demanda das universidades. É sempre assim. Quem assume o MEC vira refém das universidades. Fiquei um ano no ministério e recebi em torno de 350 parlamentares que vieram apresentar suas reivindicações. Só um pediu algo pela educação básica. Todos os outros queriam mais universidades ou escolas técnicas.
Como a educação é tratada no Congresso?
Todos dizem sim à educação. Mas, na hora de discutir o meu projeto para que filho de político estude em escola pública, engavetaram. E quando era para definir se o dinheiro do Pré-Sal iria para a educação, primeiro rejeitaram, depois, pediram que fosse só para o ensino superior e no fim não aprovaram nada. Agora há uma proposta para liberar apenas 50% para a educação. Os congressistas não querem levar a educação a sério, especialmente a educação básica, que não dá voto. Se você chegar a uma cidade onde todos são analfabetos e colocar uma faculdade ali, o povo fica contente. Mas se fizer um programa de alfabetização, ninguém liga. Por isso o Fernando Haddad foi tão bom para as universidades. Na educação básica, no entanto, não deixou marca nenhuma.
As eleições de 2014 estão nos seus planos?
O meu mandato no Senado vai até 2018 e não penso em ser candidato a governador novamente. Já dei minha contribuição. Quanto à Presidência, gostaria, mas não vejo o PDT interessado em ter candidato a presidente. Um colega parlamentar diz que o PDT virou um “puxadinho” do PT. Se houver vontade por parte do partido estou disposto a ser o candidato. Gostaria de levar o debate sobre educação novamente à sociedade.
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