Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Pais devem ponderar e buscar orientação profissional antes de permitir uma intervenção estética nos filhos adolescentesRSS
Com as mudanças físicas, psicológicas, hormonais e comportamentais, a adolescência é a fase da vida em que surgem os primeiros sinais de insatisfação com a própria imagem. E, mal largaram as bonecas e os carrinhos, muitos adolescentes querem retocar o nariz, fazer lipoaspiração e até colocar silicone. Mas determinar os efeitos da plástica em um organismo em desenvolvimento não é tarefa fácil e por isso procedimentos precoces preocupam e são desaconselhados por especialistas. Na realidade, o bom senso deve imperar na hora de indicar a plástica, para uma pessoa com menos de 18 anos.
“Os pais acabam não sabendo dosar o limite dos filhos e as intervenções cirúrgicas são feitas de maneira precoce”, alerta a psicóloga Daniele Meifter Ribeiro. Ela avalia que, nessa fase da vida, a procura por intervenções estéticas ocorre devido a problemas de autoestima, quando a pessoa não tem aceitação do próprio corpo.
Números
Correção lidera cirurgias de jovens
Em 2009, foram realizadas 700 mil plásticas estéticas no Brasil, sendo que 15% delas em adolescentes, entre 14 e 18 anos de idade, segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). As cirurgias mais procuradas nessa faixa etária são a rinoplastia (plástica de nariz), mamoplastia redutora (diminuição das mamas), mamoplastia de aumento (prótese de silicone), lipoaspiração, otoplastia (redução das orelhas de abano) e ginecomastia (correção do volume das mamas masculinas).
Entre as intervenções cirúrgicas, a de redução de orelha de abano é a que tem os res ultados mais satisfatórios. “Em torno dos 7, 8 anos de idade, esta região do rosto já está formada, pronta para ser operada e tem bons resultados, com o retorno da autoimagem”, conta o cirurgião plástico Luiz Henrique Calomeno.
Solução
Em paz com a aparência
Aos 8 anos de idade, V. (os pais pediram que o nome da menina fosse preservado) iniciou as aulas de natação no clube onde os pais são sócios. As orelhas de abano sempre foram visíveis e ela raramente amarrava os cabelos. Vez ou outra era flagrada em frente ao espelho apertando as orelhas contra a cabeça. “A V. sempre teve as orelhinhas assim e nós sabíamos que ela tinha noção disso, mas como nunca reclamou de nada e sempre teve muitos amigos no colégio, nós nunca falamos com ela sobre cirurgia”, conta a mãe Fabiana.
Mas, após completados seis meses de natação, a menina falou para a mãe que mesmo com a touca as orelhas apareciam mais do que as das outras crianças e ela se sentia incomodada com isso. “Mostramos para V. que existia a opção da cirurgia e ela topou, mesmo tendo que ficar usando uma faixa na cabeça por causa do pós-operatório”, diz o pai Marcos. Hoje, com 10 anos de idade, a criança usa com mais frequência os cabelos amarrados e os pais recomendam a cirurgia.
A especialista acredita que a própria sociedade tem grande responsabilidade na “banalização da cirurgia plástica”. “Ela [a sociedade] prioriza a beleza. As pessoas precisam ser bonitas, precisam ter uma boa aparência”, salienta.
Além disso, em alguns casos, os pais pressionam para a realização de uma cirurgia por acharem que a criança tem um problema estético, lembra o cirurgião plástico Luiz Henrique Calomeno. “Mas o pedido para a realização da cirurgia tem de vir do paciente. Por mais que os pais achem que a criança deve fazer, às vezes ela convive bem com isso”, diz.
Total formação
“O correto é esperar a formação óssea terminar para depois fazer qualquer procedimento. É preciso fazer uma avaliação de crescimento por meio de um raio X no punho e descobrir se ele foi finalizado”, orienta o cirurgião plástico e secretário da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) no Paraná Marco Aurélio Lopes Gamborgi. O médico explica que, se achar que uma paciente não deve fazer a cirurgia, ele pode recusar o procedimento. “Se uma menina tem um seio bonito, uma mama proporcional, mesmo que ela queira, eu posso contraindicar a prótese de silicone”, garante.
Gamborgi alerta ainda para a grande chance de um resultado indesejado. “Se vem uma menina querendo colocar uma prótese de 400 ml porque uma amiga colocou, mas ela tem 1,60 m e 50 kg e a amiga 1,80 m, o corpo dela não vai comportar o volume da prótese e no pós-operatório vão se formar estrias e flacidez”, justifica.
Para a psicóloga Daniele Meifter Ribeiro, ao surgir o desejo de realizar uma cirurgia plástica em um adolescente, pais e filhos devem conversar com um médico para tirar dúvidas, colher informações e saber sobre os malefícios e os benefícios que a operação pode causar. Ela pede também uma avaliação psicológica, para que se entendam os reais motivos dessa cirurgia. “É preciso saber se não é apenas para ser aceito pelo grupo”, pondera.
Pondere
A psicóloga Raphaella Ropelato dá algumas orientações para quem está pensando em realizar uma cirurgia plástica:
A psicóloga Raphaella Ropelato dá algumas orientações para quem está pensando em realizar uma cirurgia plástica:
• O corpo de um adolescente leva um tempo para ficar proporcional. Por isso, é preciso ter paciência.
• Evite expor adolescentes a procedimentos cirúrgicos para corrigir mínimos defeitos.
• Tenha cautela total quando se tratar de lipoaspiração ou implantes de seios. O médico precisa descobrir quais são as expectativas e se existem muitas fantasias com relação ao procedimento. Se for somente uma correção, tudo bem, mas às vezes a cirurgia é para resolver problemas com as amigas ou com os meninos.
• Nos casos em que a cirurgia não pode ser feita, por causa do desenvolvimento do corpo, um psicólogo deve auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais, de enfrentamento das situações cotidianas
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