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terça-feira, 3 de abril de 2012

Programa Saúde da Família avança lentamente em cidades maiores


Josué Teixeira/ Gazeta do Povo / Médico da família  em ação preventiva: cobertura de atendimento domiciliar é maior nas cidades pequenasMédico da família em ação preventiva: cobertura de atendimento domiciliar é maior nas cidades pequenas
ATENDIMENTO BÁSICO

Só 5% das equipes têm médicos especializados. Baixa capacitação é o maior obstáculo do projeto, que visa prevenir doenças e antecipar diagnósticos.

Apesar do aumento absoluto da população atendida por equipes da Estratégia Saúde da Família, nos últimos anos o avanço dessa cobertura tem revelado sinais de estagnação. O Brasil teve no ano passado um incremento de apenas 1,2% no número de atendidos pelo programa em relação a 2010, somando pouco mais de 101 milhões de pessoas.
Prevenção
Quer se prevenir? Segundo os especialistas, algumas dicas ajudam a evitar que grande parte das doenças apareçam e ainda ajudam a identificá-las ainda no início:
- Tenha uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes, verduras, cereais integrais e carnes magras. Nada melhor que o tradicional arroz, feijão, salada e carne. Fuja dos alimentos industrializados, com gordura animal, fast food e fontes de sódio e açúcar em excesso.
- Beba água. Refrigerantes, sucos industrializados e águas aromatizadas aumentam as chances de câncer, hipertensão e diabete.
- Sempre que possível, fuja da cidade e passe uns dias em um local mais tranquilo e menos poluído.
- Não fume. O tabagismo (mesmo que esporádico) aumenta em 40% as chances de ter câncer e está bastante associado a casos de enfarte e AVC.
- Não beba em excesso e não misture álcool e direção. Os acidentes de trânsito são uma das maiores causas de mortes e invalidez no Brasil.
- Não use drogas.
- Pratique exercícios físicos três vezes por semana, por pelo menos 50 minutos.
- Se está acima do peso, emagreça. A obesidade é fator de risco para câncer, diabete e problemas cardiovasculares.
- Visite seu médico regularmente, faça uma avaliação completa anualmente e realize os exames preventivos, como a mamografia para o câncer de mama, nos prazos estipulados.
- Mantenha suas vacinas em dia. Como algumas vacinas precisam ser reaplicadas na vida adulta, na dúvida, consulte uma unidade de saúde e veja se está imunizado corretamente.
Benefícios
Prevenção ajuda a reduzir mortes por doenças crônicas
Os especialistas são unânimes: o investimento em programas de prevenção está ligado a uma diminuição progressiva nas mortes por doenças crônicas. “Se, durante a consulta, descobre-se que o paciente tem história familiar de hipertensão e a avaliação mostra que ele está acima do peso e seu colesterol está alto, podemos oferecer medidas de prevenção, como recomendar atividade física e dieta adequada, os primeiros passos para evitar uma morte por enfarte ou AVC”, diz a médica pediatra e sanitarista e professora do curso de Medicina da Universidade Positivo Eliane Cesário Maluf.
A medida também reduz custos com internações e procedimentos de alta complexidade, já que os problemas são antecipados e somente em casos extremos os tratamentos chegam à internação em UTI ou exigem procedimentos de alta complexidade.
Mesmo assim, a professora explica que não adiantam altos investimentos governamentais se a própria população não intensifica seus cuidados com a saúde. “Com as doenças crônicas, não há fórmula mágica e a pessoa precisa mudar seu estilo de vida para evitar diabete, hipertensão e câncer. Não tem jeito: não adianta a farmácia estar bem abastecida e o médico ser totalmente qualificado se a pessoa não melhora sua dieta e não =passa a fazer exercícios”, alerta.
Programa
O Saúde da Família (PSF) foi lançado em 1994 para incentivar a prevenção e aproximar a população dos serviços de saúde:
Estratégia
• Em 2006, o PSF tornou-se uma estratégia de governo e um fio-condutor da atenção à saúde no país.
• A ação busca prevenir a mortalidade infantil, o câncer de colo e de mama e oferece atendimento e orientação em hipertensão, diabete, tuberculose, hanseníase, problemas bucais e mentais.
Funcionamento
• Médicos de família e agentes comunitários de saúde acompanham a população de bairros ou de toda uma cidade.
• É realizado um cadastro de todos os moradores e identificado o número de crianças, adultos e idosos, se há gestantes e se há necessidade de atendimento domiciliar.
• São marcadas consultas periódicas, realizados exames preventivos e prestadas orientações como cuidados para evitar a dengue e formas de planejamento familiar.
Essa redução do avanço relativo, que já foi de 6,7% de 2007 a 2008, torna ainda mais difícil a meta do governo federal de universalizar as estratégias de saúde baseadas na prevenção, que pretende levar uma nova cultura em saúde ao alcance de todos os 191 milhões de brasileiros.
Mesmo com 53% da população atendida, a minoria das equipes existentes é composta de médicos com especialização na área. Segundo um estudo encomendado pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, apenas 5% das equipes do Saúde da Família têm um médico especializado em Medicina da Família e Comunidade, profissional que trabalha especificamente com acompanhamento, prevenção e promoção da saúde. “Hoje, o principal problema é a falta de médicos qualificados.
A estrutura de saúde, em si, não exige tantos recursos para ser mantida, mas não adianta ter uma unidade equipada com o que há de melhor se não há profissionais com formação para atender à demanda com qualidade”, explica a coordenadora da residência de Medicina de Família e Comunidade da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Tânia Maria Santos Pires.
Ela cita o exemplo de sucesso de Belo Horizonte. Há alguns anos, os mineiros chegaram a 70% da população tendo cobertura dos programas da Saúde da Família – em Curitiba, o índice não passa de 30%. A chave para isso foi um investimento considerado ousado na qualificação dos estudantes de Medicina. “Por lá, a prefeitura decidiu incentivar a residência em medicina de família, essencial para implementação dos programas, e ela passou a organizar e manter financeiramente as residências na área.”
Para o presidente da Asso­­ciação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, as estratégias do Saúde da Família precisam passar pela profissionalização do quadro de funcionários e pela oferta de educação continuada. “O governo federal está em campanha para alocar médicos recém-formados e sem formação adequada em municípios do interior mas, em muitos casos, acaba por não oferecer condições plenas de salário e estabilidade, o que é nocivo para o sistema.”
Caminho
Para os especialistas, mesmo com alguns problemas, os incentivos do governo à prevenção no Brasil estão em um caminho positivo e conseguiram aproximar a população do sistema de saúde. E mesmo a dificuldade em ampliar a cobertura dos serviços não compromete a boa avaliação.
“É possível ampliá-la, tendo a preocupação com a qualificação dos profissionais, mas é ilusão achar que vamos cobrir 100% da população em curto prazo, já que muitos optam pelos planos de saúde e atendimento particular. A meta deve ser ter bons indicadores de saúde. Se um bairro ou cidade tem isso, o investimento pode ser direcionado a outras áreas”, diz a médica pediatra e sanitarista Eliane Cesário Maluf, professora do curso de Medicina da Universidade Positivo.
Segundo ela, a iniciativa ainda é capaz de economizar recursos. “Estudos internacionais mostram que 85% a 90% dos casos podem ser atendidos em unidades de atenção primária, sem mobilizar hospitais e sistemas complexos, como UTIS, que são muito mais onerosos.”
Diferença de estrutura marca destino de verbas
Há cinco anos, a cidade de Cas­­tro, na Região Central do es­­tado, tinha 90% da população atendida pelos programas da Saúde da Família, enquanto Curitiba não passava de 30%. A diferença provém da estrutura de saúde necessária em cada município.
“Enquanto Castro consegue atender quase toda a sua po­­pulação com cinco unidades de saúde, com quatro médicos em cada uma, Curitiba de­­manda uma estrutura muito maior. Por mais que a capital tenha mais recursos, tornar a cobertura abrangente é um desafio pelo tamanho da demanda”, explica a professora do curso de Medicina da PUCPR Tânia Maria Pires.
Alta complexidade
As necessidades de alocação de recursos variam conforme o porte da cidade. Em uma cidade pequena, as unidades de saúde podem trabalhar quase que exclusivamente com a atenção primária à saúde, enquanto as maiores precisam destinar recursos para a alta complexidade.
“Caso uma pessoa de Cas­­tro seja diagnosticada com cân­­cer, é removida para Ponta Grossa, a regional de saúde mais próxima. Se o quadro for gravíssimo e demandar atendimento mais específico, é encaminhada para Curitiba. Com isso, a capital divide seus investimentos em várias frentes, enfraquecendo a quantidade destinada à prevenção.”

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