Médico da família em ação preventiva: cobertura de atendimento domiciliar é maior nas cidades pequenas
ATENDIMENTO BÁSICOSó 5% das equipes têm médicos especializados. Baixa capacitação é o maior obstáculo do projeto, que visa prevenir doenças e antecipar diagnósticos.
Apesar do aumento absoluto da população atendida por equipes da Estratégia Saúde da Família, nos últimos anos o avanço dessa cobertura tem revelado sinais de estagnação. O Brasil teve no ano passado um incremento de apenas 1,2% no número de atendidos pelo programa em relação a 2010, somando pouco mais de 101 milhões de pessoas.
Prevenção
Quer se prevenir? Segundo os especialistas, algumas dicas ajudam a evitar que grande parte das doenças apareçam e ainda ajudam a identificá-las ainda no início:
- Tenha uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes, verduras, cereais integrais e carnes magras. Nada melhor que o tradicional arroz, feijão, salada e carne. Fuja dos alimentos industrializados, com gordura animal, fast food e fontes de sódio e açúcar em excesso.
- Beba água. Refrigerantes, sucos industrializados e águas aromatizadas aumentam as chances de câncer, hipertensão e diabete.
- Sempre que possível, fuja da cidade e passe uns dias em um local mais tranquilo e menos poluído.
- Não fume. O tabagismo (mesmo que esporádico) aumenta em 40% as chances de ter câncer e está bastante associado a casos de enfarte e AVC.
- Não beba em excesso e não misture álcool e direção. Os acidentes de trânsito são uma das maiores causas de mortes e invalidez no Brasil.
- Não use drogas.
- Pratique exercícios físicos três vezes por semana, por pelo menos 50 minutos.
- Se está acima do peso, emagreça. A obesidade é fator de risco para câncer, diabete e problemas cardiovasculares.
- Visite seu médico regularmente, faça uma avaliação completa anualmente e realize os exames preventivos, como a mamografia para o câncer de mama, nos prazos estipulados.
- Mantenha suas vacinas em dia. Como algumas vacinas precisam ser reaplicadas na vida adulta, na dúvida, consulte uma unidade de saúde e veja se está imunizado corretamente.
Benefícios
Prevenção ajuda a reduzir mortes por doenças crônicas
Os especialistas são unânimes: o investimento em programas de prevenção está ligado a uma diminuição progressiva nas mortes por doenças crônicas. “Se, durante a consulta, descobre-se que o paciente tem história familiar de hipertensão e a avaliação mostra que ele está acima do peso e seu colesterol está alto, podemos oferecer medidas de prevenção, como recomendar atividade física e dieta adequada, os primeiros passos para evitar uma morte por enfarte ou AVC”, diz a médica pediatra e sanitarista e professora do curso de Medicina da Universidade Positivo Eliane Cesário Maluf.
A medida também reduz custos com internações e procedimentos de alta complexidade, já que os problemas são antecipados e somente em casos extremos os tratamentos chegam à internação em UTI ou exigem procedimentos de alta complexidade.
Mesmo assim, a professora explica que não adiantam altos investimentos governamentais se a própria população não intensifica seus cuidados com a saúde. “Com as doenças crônicas, não há fórmula mágica e a pessoa precisa mudar seu estilo de vida para evitar diabete, hipertensão e câncer. Não tem jeito: não adianta a farmácia estar bem abastecida e o médico ser totalmente qualificado se a pessoa não melhora sua dieta e não =passa a fazer exercícios”, alerta.
Programa
O Saúde da Família (PSF) foi lançado em 1994 para incentivar a prevenção e aproximar a população dos serviços de saúde:
Estratégia
• Em 2006, o PSF tornou-se uma estratégia de governo e um fio-condutor da atenção à saúde no país.
• A ação busca prevenir a mortalidade infantil, o câncer de colo e de mama e oferece atendimento e orientação em hipertensão, diabete, tuberculose, hanseníase, problemas bucais e mentais.
Funcionamento
• Médicos de família e agentes comunitários de saúde acompanham a população de bairros ou de toda uma cidade.
• É realizado um cadastro de todos os moradores e identificado o número de crianças, adultos e idosos, se há gestantes e se há necessidade de atendimento domiciliar.
• São marcadas consultas periódicas, realizados exames preventivos e prestadas orientações como cuidados para evitar a dengue e formas de planejamento familiar.
Essa redução do avanço relativo, que já foi de 6,7% de 2007 a 2008, torna ainda mais difícil a meta do governo federal de universalizar as estratégias de saúde baseadas na prevenção, que pretende levar uma nova cultura em saúde ao alcance de todos os 191 milhões de brasileiros.
A estrutura de saúde, em si, não exige tantos recursos para ser mantida, mas não adianta ter uma unidade equipada com o que há de melhor se não há profissionais com formação para atender à demanda com qualidade”, explica a coordenadora da residência de Medicina de Família e Comunidade da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Tânia Maria Santos Pires.
Ela cita o exemplo de sucesso de Belo Horizonte. Há alguns anos, os mineiros chegaram a 70% da população tendo cobertura dos programas da Saúde da Família – em Curitiba, o índice não passa de 30%. A chave para isso foi um investimento considerado ousado na qualificação dos estudantes de Medicina. “Por lá, a prefeitura decidiu incentivar a residência em medicina de família, essencial para implementação dos programas, e ela passou a organizar e manter financeiramente as residências na área.”
Para o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, as estratégias do Saúde da Família precisam passar pela profissionalização do quadro de funcionários e pela oferta de educação continuada. “O governo federal está em campanha para alocar médicos recém-formados e sem formação adequada em municípios do interior mas, em muitos casos, acaba por não oferecer condições plenas de salário e estabilidade, o que é nocivo para o sistema.”
Caminho
Para os especialistas, mesmo com alguns problemas, os incentivos do governo à prevenção no Brasil estão em um caminho positivo e conseguiram aproximar a população do sistema de saúde. E mesmo a dificuldade em ampliar a cobertura dos serviços não compromete a boa avaliação.
“É possível ampliá-la, tendo a preocupação com a qualificação dos profissionais, mas é ilusão achar que vamos cobrir 100% da população em curto prazo, já que muitos optam pelos planos de saúde e atendimento particular. A meta deve ser ter bons indicadores de saúde. Se um bairro ou cidade tem isso, o investimento pode ser direcionado a outras áreas”, diz a médica pediatra e sanitarista Eliane Cesário Maluf, professora do curso de Medicina da Universidade Positivo.
Segundo ela, a iniciativa ainda é capaz de economizar recursos. “Estudos internacionais mostram que 85% a 90% dos casos podem ser atendidos em unidades de atenção primária, sem mobilizar hospitais e sistemas complexos, como UTIS, que são muito mais onerosos.”
Diferença de estrutura marca destino de verbas
Há cinco anos, a cidade de Castro, na Região Central do estado, tinha 90% da população atendida pelos programas da Saúde da Família, enquanto Curitiba não passava de 30%. A diferença provém da estrutura de saúde necessária em cada município.
“Enquanto Castro consegue atender quase toda a sua população com cinco unidades de saúde, com quatro médicos em cada uma, Curitiba demanda uma estrutura muito maior. Por mais que a capital tenha mais recursos, tornar a cobertura abrangente é um desafio pelo tamanho da demanda”, explica a professora do curso de Medicina da PUCPR Tânia Maria Pires.
Alta complexidade
As necessidades de alocação de recursos variam conforme o porte da cidade. Em uma cidade pequena, as unidades de saúde podem trabalhar quase que exclusivamente com a atenção primária à saúde, enquanto as maiores precisam destinar recursos para a alta complexidade.
“Caso uma pessoa de Castro seja diagnosticada com câncer, é removida para Ponta Grossa, a regional de saúde mais próxima. Se o quadro for gravíssimo e demandar atendimento mais específico, é encaminhada para Curitiba. Com isso, a capital divide seus investimentos em várias frentes, enfraquecendo a quantidade destinada à prevenção.”
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