Jeanine Berbel
Sempre coube ao diferente uma existência marginal. Dificilmente sua aceitação é natural, espontânea, sem alguma resistência. O diferente suscita espanto, questionamento, medo. A reação primeira não é de acolhimento mas de rejeição, negação, afastamento – quando não de enfrentamento, combate. O ataque muitas vezes é mecanismo de defesa, apresentando-se como via automática, inconsciente.
Seria essa nossa programação mais primitiva? Originar-se-ia da necessidade pré-histórica de sobrevivência essa tendência a separar o que destoa, esse nosso pender à luta? Mas o instinto deve ser simplesmente exercitado, sem lapidação? E onde fica a evolução?
Não somos mais homens das cavernas. Águas e mais águas passam sobre as pontes do tempo transformando seres, coisas... Transformando o mundo! Dispomos de tantas mais ferramentas quanto maiores passam a ser as responsabilidades. Jamais se ofereceu tanto conhecimento ou tantas possibilidades de escolha. Nossas mentes nos devem dar direção. Cabe-nos seu melhor exercício.
O ser se deixa reduzir seguindo manadas ou meramente seus impulsos. O pensar, o refletir, o ponderar, pesando valores e necessidades do ser – único – não deveria dirigir com mais veemência suas opções?
A alguém é possível viver a vida alheia, incorporar suas dores, experimentar seus conflitos, vivenciar seus louros? Na senda do homem mentalmente são, a quem cabem, então, as decisões sobre si?
O que é importante é definição de cada um. O diferente também pode ser normal ainda que fuja a padrões. Afinal, quem os estabelece?
A essência da liberdade é que a cada um seja permitida a realização de escolhas referentes à própria existência, sob o peso dos efeitos sobre si – para o bem ou para o mal. Pois que esse direito encontre espaço sem o peso adicional de tantos preconceitos, sentenças antecipadas e tentativas de imposição externa, ainda que subjetivas.
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