O estudioso da comunicação Douglas Rushkoff sugere um conjunto de regras para evitar que você seja dominado pelos programadores, apontados como a nova elite dominante do.
Todas as mídias e tecnologias têm viéses que promovem determinados tipos de comportamentos em detrimento de outros, diz o teórico de mídia Douglas Rushkoff, autor do livro Program or Be Programmed: Ten Commands for a Digital Age (em tradução literal, “Programe ou Seja Programado: Dez Mandamentos para uma Era Digital”) . Para explicar como a mídia digital está mudando a nossa relação com o mundo, ele relembra o impacto de revoluções passadas. “A linguagem permitiu o compartilhamento do conhecimento, a experiência cumulativa e a possibilidade de progresso. O alfabeto nos trouxe o pensamento abstrato, o monoteísmo e a lei contratual. O processo de impressão e a leitura privada permitiram uma nova experiência de individualidade, uma relação pessoal com Deus, a Reforma Protestante, os direitos humanos e o Iluminismo.” Rushkoff segue dizendo que sempre que houve o aparecimento de um novo meio, o status quo é reescrito por aqueles que tem acesso às ferramentas de criação desse meio – acesso restrito, normalmente, a uma pequena elite. No caso do processo de impressão, por exemplo, poucas pessoas tinham acesso a uma impressora. A televisão e o rádio seguiram nesse mesmo modelo: uma pequena elite controlando a distribuição em massa de ideias e notícias.
A chegada da era do computador está vendo o surgimento de uma nova elite: os programadores. Quando a linguagem foi inventada, nós não aprendemos só a escutar, mas também a falar. Quando fomos alfabetizados, aprendemos não só a ler, mas a escrever. Com a chegada da realidade digital, precisamos não apenas saber a como usar os programas, mas a como fazê-los – ou seja, a programar. Esse é o ponto central do livro de Rushkoff, que serve como um guia para como se comportar na era digital. Veja quais são os 10 pontos defendidos por ele para uma vida digital saudável.
1. Tempo:
Não esteja sempre conectado
Rushkoff explica que houve um salto gigantesco entre a invenção do e-mail e a popularização dos smartphones: o primeiro encontrava uma pessoa quando ela queria ser encontrada, enquanto o segundo interrompe o dono do aparelho ao tocar inesperadamente sempre que uma pessoa quer lhe contatar. Claro, isso se a pessoa deixar o telefone ligado. Esse é precisamente o ponto para o qual Rushkoff chama a atenção. À medida que a conexão de internet ficou mais rápida e mais livre, estamos adotando como norma um modo de vida “sempre ligado”. E-mail, tweet, update, notificação, alerta – o celular vibra por qualquer motivo. “Nossos aparelhos, e, por extensão, nosso sistema nervoso, está ligado a todo o universo online, o tempo todo”, escreve ele. “A extensão da memória para as máquinas expande a quantidade de informações à qual temos acesso, mas danifica a capacidade do próprio cérebro de lembrar das coisas.” A dica: reserve momentos offline.
2. Lugares:
Viva em pessoa
Você está numa festa e vê, pelo Facebook, que seu amigo parece estar numa balada um pouco mais animada. Conclusão imediata: você vai para a festa em que ele está. Chegando lá, sabe de uma outra festa. A noite pode continuar assim, pulando de galho em galho à procura do melhor lugar, da festa imperdível, participando de tudo. Esse é um comportamento incentivado pelas redes sociais, em que todo mundo está feliz e num lugar bacana. Para o autor, quando você rende a sua presença para o mundo digital, a vaidade se torna mais importante do que a felicidade.
3. Escolha:
Você sempre pode escolher nenhuma das alternativas anteriores
Os computadores são binários e foram feitos para escolhas entre duas alternativas. Todo arquivo, foto, música, filme, programa e sistema operacional é, na verdade, apenas um número. E para o computador, esse número é representado por sequencias de uns e zeros. Isso não é uma coisa ruim, é só como os computadores funcionam. Mas nos leva a fazer escolhas não como queremos, mas como os programas exigem. Você gosta da Dilma? Sim ou não. Observe que não há qualquer espaço para expressar nuances quando se lida com essas questões que são apresentadas como se duas respostas são as únicas opções possíveis. Computadores são tendenciosos e, consequentemente, criam um mundo de escolhas binárias que pode nos enganar.
4. Complexidade:
Você nunca está completamente certo
A internet é enviesada para reduzir a complexidade das coisas. O Facebook, por exemplo, reduz a complexidade dos diferentes níveis de relacionamentos que existem na realidade. Quando você quer compartilhar algo com seus amigos, o Facebook permite que você compartilhe esse conteúdo com alguns amigos e, caso opte, não com outros. No entanto, o Facebook sempre nos obriga a categorizar as pessoas em diferentes grupos. Mas não é assim que as coisas funcionam na realidade. A internet não é um mapa perfeito da realidade das nossas vidas, que é muito mais complexa.
5. Escala:
Um tamanho não serve para todos
Há uma tendência na net para a abstração. As pessoas estão mais interessadas em criar um site para resolver o problema do bairro, e fazer com que esse site se torne conhecido, do que de fato resolver o problema do bairro. É possível que esse site resulte numa mudança efetiva no mundo físico, mas muita gente confunde a representação de valor com o valor de fato de uma ação, diz o autor. Fazer parte de uma lista de discussão de um movimento ou dar um like em uma causa no Facebook não quer dizer que o usuário está realmente fazendo alguma coisa por essa causa. Muitos estão preocupados em escalar a mensagem, mostrar seu ativismo, mas essa abstração não necessariamente está associada à realidade.
6. Identidade:
Seja você mesmo
A nossa experiência digital não envolve contato pessoal, o que nos incentiva a ter um comportamento despersonalizado, afirma Rushkoff. Ao resistir à tentação de nos engajar anonimamente na web, permanecemos responsáveis por aquilo que dizemos e fazemos na web. O anonimato, muitas vezes, retira o elemento das interações e degrada as relações que construímos com os outros na internet.
7. Social:
Não venda seus amigos
Se você já deu um retweet, no Twitter, ou um share, no Facebook, de uma promoção em que pretendia ganhar um produto ou um serviço, você já vendeu os seus amigos, argumenta Rushkoff. As marcas usam a prática para espalhar sua mensagem pela web, mas o autor lembra que, com a internet, o marketing se tornou uma ferramenta ainda mais poderosa, e portanto devemos estar atentos para não explorar nossos amigos para o nosso ganho financeiro. A internet é predominantemente dominada por redes de contatos, mas vender esses contatos ameaça a força e o propósito das redes.
8. Fato:
Fale a verdade
Coloque algo falso na internet e, eventualmente, isso vai ser revelado uma mentira. E como o que você escrever on-line pode ser difícil de apagar, a melhor opção para quem se comunica na internet é falar a verdade.
9. Abertura:
Compartilhe, não roube
Na internet, estamos em contato, a todo o momento, com as ideias e o trabalho de outras pessoas. Tanto que pensar por si próprio deixou de ser uma atitude pessoal para se tornar uma coletiva, defende Rushkoff. Num sistema tão aberto como a internet, é fácil roubar o trabalho dos outros e não dar o devido crédito. Por isso é tão importante saber a diferença grande entre compartilhar e roubar.
10. Objetivo:
Programe ou seja programado
Esse é o capítulo que dá nome ao livro. Muitos diriam que ele apresenta uma falsa dicotomia – programe ou seja programado. Não saber programar não transforma ninguém em robô, mas entender como os computadores funcionam é importante para saber em que tipo de mundo estamos vivendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário