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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Brasileiros deixam os grandes centros e voltam ao interior


Vida e CidadaniaGazeta do Povo

Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo / Claudio na Rua 24 horas, em Curitiba: volta para casa após uma temporada em MaringáClaudio na Rua 24 horas, em Curitiba: volta para casa após uma temporada em Maringá
POPULAÇÃO

Cresce o número de pessoas que decidiram retornar para a cidade em que nasceram depois de viverem anos em outras regiões do país.

Se até uma década atrás era comum ouvir que estudantes do interior iriam para a capital estudar ou que uma pessoa tentaria a sorte na cidade grande, agora a tendência é justamente o contrário. Os brasileiros estão ficando cada vez mais em suas cidades de origem e os que algum dia saíram do local em que nasceram, agora estão retornando. Dados do Censo Demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, revelam que entre 2005 e 2010 aumentou a chamada “migração de retorno” dentro do país.
Para especialistas, esse movimento é a prova de que as grandes capitais (como Rio de Janeiro e São Paulo) estão saturadas e de que as cidades pequenas e médias conseguiram se desenvolver a ponto de ser tão atraentes que seguram ou chamam de volta a sua população.
Mobilidade
Nordestinos continuam o movimento de volta para casa
O número de nordestinos que retornaram para seus estados de origem entre 2005 e 2010 caiu, segundo o último Censo do IBGE, em relação aos dados coletados em 2000. Mesmo assim, é nesta região que se concentram as maiores movimentações de volta à cidade de origem no país (ver gráfico). Do total de migrantes no Nordeste, em média, 40% são de retorno. A movimentação é forte em estados como Paraíba, Ceará, Alagoas, Pernambuco e Piauí.
“O Nordeste teve uma fantástica redução na taxa de mortalidade e o PIB [Produto Interno Bruto] subiu mais que em muitas outras regiões. A volta é melhor para todo mundo, afinal os nordestinos sofriam preconceito em São Paulo [para onde muitos migraram nos anos 80 e 90]”, explica o demógrafo Wilson Fusco, da Fundação Joaquim Nabuco.
Fusco afirma que, além da transferência de renda para a população de todas as cidades brasileiras – acabando com a concentração em São Paulo –, o que influenciou a melhoria da situação de vida no Nordeste foi uma política de investimentos em obras de irrigação, que ajuda a população a sobreviver nas grandes secas. “Temos aí parte da transposição do Rio São Francisco já feita e a construção de grandes cisternas. Na hora em que uma família passa a ter cisterna, consegue manter os animais e tem um suporte para os dias mais difíceis”, diz.
O professor Alisson Flávio Barbieri, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também reforça que o Nordeste foi uma região que teve um crescimento econômico maior que a média nacional e, com a redução dos abismos econômicos, a migração deixou de ser atraente. “As pessoas preferem residir onde têm mais laços culturais e familiares. E quando percebem que na cidade onde vivem terão uma situação de vida parecida com a vida em outro lugar, preferem ficar. Isso acontece graças à redução nas diferenças salariais no Brasil como um todo.” (PM)
Só em São Paulo, 206,7 mil pessoas voltaram para a cidade natal. O Paraná, em número absoluto, é o quarto estado que mais registrou a migração de retorno: foram 94,8 mil pessoas. As outras duas unidades da federação que se destacaram foram Minas Gerais (133,6 mil) e Bahia (103,8 mil). “Isso é um ótimo sinal. A migração significa quase sempre que algo não está indo bem naquela região. As pessoas migram para poder sobreviver e há muita tristeza nisso. Agora acontece o movimento inverso, o que significa que as regiões brasileiras estão melhorando e as desigualdades sociais diminuindo”, explica o demógrafo Wilson Fusco, da Fundação Joaquim Nabuco.
Eu voltei para ficar
A dificuldade de adaptação foi o que levou o engenheiro da computação Cláudio Karpenko, 32 anos, a voltar para Curitiba – sua cidade natal – depois de um tempo morando em Maringá, no Noroeste do estado. “Não consegui me adaptar. A saudade da família pesou na decisão de voltar”, diz. Karpenko retornou há quatro anos. Ele trabalha no escritório de uma multinacional, é casado e pai de um menino de 4 meses. “Mesmo sabendo que, na minha área, teria muito mais oportunidades em São Paulo, não penso em ir embora outra vez. O que a gente busca é diferente em cada fase da vida e aqui [em Curitiba] eu me sinto realmente em casa.”
Um único e importante fator explica a migração de retorno, segundo o sociólogo Márcio de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná. “O Brasil cresceu e colocou dinheiro na mão de todo o povo”, diz. Isso quer dizer que o aumento do salário mínimo real – e consequentemente da aposentadoria – foi uma importante entrada de recursos em municípios menores.
Qualidade de vida
Viver em uma cidade grande também tem ficado cada vez mais difícil. Foi por isso que o engenheiro de automação Ênio Tucazaki decidiu se mudar da capital paulista e voltar para Curitiba. Ele ainda está em São Paulo, mas pretende retornar até agosto. “Não consegui me adaptar. O estresse no trânsito é infernal e, quando surgiu a oportunidade de voltar, não pensei duas vezes. Está decidido”, afirma. Tucazaki pretende montar uma empresa na capital paranaense.
“Digo que os grandes centros sofrem com a deseconomia de aglomeração. Chega um ponto em que para se ter qualidade de vida fica caro, porque há muita insegurança. É melhor, então, viver em cidades médias com qualidade de vida melhor”, explica o professor Alisson Flávio Barbieri, do Departamento de De­mografia da Universidade Federal de Minas Gerais.

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