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Professor de Língua Portuguesa na Rede Estadual de Ensino - Governo do Paraná

domingo, 6 de maio de 2012

Fora da zona de conforto


Divulgação / Pondé escreveu ensaios para atacar o pensamento comum sobre o politicamente corretoPondé escreveu ensaios para atacar o pensamento comum sobre o politicamente correto
ENSAIOS

Luiz Felipe Pondé desabafa, questiona e ataca os costumes da sociedade civilizada em Guia Politicamente Incorreto da Filosofia.

Defender o (aparentemente) indefensável – ou vice-versa, condenar o aparentemente incondenável – parece ser a predileção dos textos do filósofo pernambucano Luiz Felipe Pondé. Essa predileção lhe rendeu as pechas de polemista e pessimista, não negadas pelo autor de Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, lançado agora pela editora Leya. Pondé volta nesta obra a temas caros à sua linha de pensamento, como os costumes da sociedade civilizada, o feminismo e outros movimentos sustentados pelo que ele chama de “a praga do Politicamente Correto” ou “praga PC”, objeto central de seus pequenos ensaios.
Antes de mais nada, é importante dizer: o título de O Guia Politicamente Incorreto da Filosofia – que segue, segundo a editora Leya, a série de livros “politicamente incorretos” iniciados por Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil e Guia Politicamente Incorreto da História da América Latina, de Leandro Narloch – está, para dizer o mínimo, impreciso. Não é, como o nome pode sugerir, um guia para acompanhar a linha de pensamento de vários filósofos sem a veneração comumente prestada pelos acadêmicos ou uma análise nua e crua de Platão a Sartre, mas sim, ensaios livres, levemente embasados ou corroborados por algumas ideias iluministas, classicistas e contemporâneas, entre outras.
 / Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, Luiz Felipe Pondé. Leya, 224 págs., R$ 39,90. EnsaiosAmpliar imagem
Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, Luiz Felipe Pondé. Leya, 224 págs., R$ 39,90. Ensaios
Dessa forma, por exemplo, Pondé usa A República de Platão para defender a ideia de que poucos carregam o mundo nas costas, e a grande maioria serve simplesmente para obedecer – contextualizando assim, a aristocracia baseada em méritos, ou refuta a ideia romântica do selvagem superior por estar em contato pleno com a natureza. Talvez Guia Filosófico do Politicamente Incorreto fosse um título mais acertado, embora perdesse o apelo comercial que a leva dos livros de Narloch confere ao novo volume da “série”.
Mas Pondé não se prende muito a correntes filosóficas. A grande maioria de seus textos é justificada com base na observação e em análises históricas. Atesta, dessa maneira, que o politicamente correto nasceu da nova esquerda norte-americana. Segundo ele, era preciso criar uma ilusão igualitária para suportar a ascensão social dos negros e dos gays, dois grupos influentes a partir da década de 1960. Outros, nem isso. Em seu capítulo, “Viajar Jamais”, o escritor mais faz um desabafo do que uma crítica ou insight sobre a infiltração do “zé povinho” em espaços até então considerados exclusivos, como a Europa e os aeroportos.
De maneira que Guia Politicamente Incorreto da Filosofia é um livro solto e, por isso mesmo, irregular. Indo do mais tradicional ensaio para leigos até o criticismo puro e simples, Pondé acaba por, de certa forma, dinamitar o que seria uma argumentação sólida sobre um assunto que merece ser discutido em favor de um desejo implacável por polemizar sobre tudo. E por mais que o livro mantenha seu tom leve e divertido de ler, perde um pouco da seriedade potencial e necessária ao tema.
Porém, como diz em sua introdução, Pondé quer mesmo é incomodar, tirar da zona de conforto o homem politicamente correto que não questiona a validade de seu pensamento. E isso pode-se dizer que o filósofo alcançou. Cada aspecto do pensamento politicamente correto foi questionado, embora nem sempre da maneira mais completa possível. E ainda que afirme com todas as letras que questionar a igualdade não seja motivo para discriminar, não há de faltar quem o interprete mal para esse mesmo fim. Será esse um risco que o Brasil pode correr?

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