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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Assembleia aprova Comissão da Verdade no Paraná


Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo / Comissão Nacional se reuniu no teatro da reitoria da Universidade Federal do ParanáComissão Nacional se reuniu no teatro da reitoria da Universidade Federal do Paraná
DITADURA MILITAR

Assembleia aprova Comissão da Verdade no Paraná

Curitiba recebeu ontem a primeira audiência pública da comissão nacional na Região Sul do país. Encontro teve depoimentos breves, mas emocionantes.
Foi realizado ontem à tarde o sétimo encontro da Comissão Nacional da Verdade no país, o primeiro na região Sul. A comissão se reuniu em Curitiba, no teatro da reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), instituição que teve alunos presos durante a ditadura militar, no episódio conhecido como Chácara do Alemão. O dia foi apertado para tantos depoimentos, o que acabou causando mal-estar entre alguns participantes, já que eles tiveram de conter as emoções e ir direito ao ponto, apenas citando o nome dos torturadores e deixando de lado a história pela qual cada um passou. Outro motivo de constrangimento foi o pequeno público presente no evento: diversas cadeiras do teatro ficaram vazias.
A boa notícia, porém, chegou no fim do dia, quando a Assembleia Legislativa do Paraná aprovou, em segunda votação, a criação da Comissão da Verdade no estado. Outras instituições locais estudam o assunto e coletam testemunhos, como o Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, além da Comissão da Verdade da UFPR e da OAB-PR.
Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo / Júlio, filho do ex-preso político Ildeu Manso Vieira: traumaAmpliar imagem
Júlio, filho do ex-preso político Ildeu Manso Vieira: trauma
Depoimentos
A Comissão poderá ouvir novos depoimentos, ainda sem data marcada. Uma das pessoas que os integrantes gostariam de escutar é o capitão do exército Francisco Paulo Manhães, acusados de estar diretamente envolvido em vários casos de tortura. O problema é que ele tem quase 90 anos e seria muito senil para tal testemunho.
Paulo Sérgio Pinheiro, membro da Comissão Nacional da Verdade, lembrou que o Paraná foi um dos primeiros a abrir os arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops). “É a primeira vez que estamos no Paraná, mas a comissão não vai começar do zero, porque há muitas informações coletadas pelo Centro da Memória que existe aqui”, explicou. A comissão deve entregar em 15 de maio de 2014 um relatório sobre o que conseguiu levantar. “Podemos investigar autores e circunstâncias em que ocorreram os delitos, mas não cabe a nós processar ou julgar”, salientou.
Um dos coordenadores do Fórum, Roberto Elias Salo­mão, disse que é inadmissível que ainda hoje existam no estado ruas, escolas e edifícios com nomes de torturadores. “É preciso nomear aqueles que participaram da repressão e não permitir que recebam esse tipo de homenagem”, diz.
Testemunhos
Pela manhã, ex-alunos da UFPR e da antiga Uni­­ver­­sidade Católica (hoje PUCPR) contaram episódios da repressão, como a prisão de 40 paranaenses no Con­­gresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna, as torturas sofridas por eles e as pesadas condenações estabelecidas pela Justiça Militar.
À tarde, os depoimentos mais emocionantes, apesar de breves, foram os dos dois filhos de Ildeu Manso Vieira, um dos líderes do PCB no Paraná, que escreveu dois livros sobre seu período na prisão. “Meu pai foi levado quando eu tinha 14 anos. Quando soube que seria solto, subi no muro para vê-lo, e o que eu enxerguei lá embaixo [no quartel da polícia] foram homens que pareciam ter ido a campos de concentração”, contou Júlio Manso Vieira.
O filho mais velho, Ildeu Manso Vieira Junior, chorou em quase todo o depoimento. Ele foi preso junto com o pai e recordou que recebeu um óculos preto para não ver o que ocorria, mas que conseguiu movê-lo com as sobrancelhas. O pouco que enxergou foi suficiente para nunca mais ser esquecido. “Vi estas pessoas serem duramente torturadas”, diz.
Episódios
Confira alguns atos e palcos da repressão no Paraná:
Ocupação da Reitoria
Em 1968, a Reitoria da UFPR foi palco das mais significativas manifestações dos estudantes contra o ensino pago e contra a ditadura militar. Os estudantes ocuparam a Reitoria e arrastaram o busto do reitor Flávio Suplicy Lacerda. O câmpus acabou cercado pela PM.
Chácara do Alemão
Logo após a promulgação do AI-5, em dezembro de 1968, alunos da UFPR e da antiga Universidade Católica do Paraná tentaram organizar um congresso de estudantes da UNE na chamada Chácara do Alemão, no bairro Boqueirão, em Curitiba. Mas foram surpreendidos pelo Exército: 42 acabaram detidos e cinco deles condenados à prisão (três homens e duas mulheres).
Operação Marumbi
Fez parte da ofensiva desencadeada nacionalmente pelos órgãos de repressão contra militantes do PCB, em 1975. Recebeu esse nome no Paraná e “Operação Barriga Verde” em Santa Catarina. A chamada Clínica Marumbi foi local de violentas torturas contra militantes. Ainda não se sabe sua exata localização porque os presos eram levados para lá encapuzados.
Presídio do Ahú
A Prisão Provisória de Curitiba também teve salas de tortura no seu subsolo.
Estrada do Colono
Em 1974, seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foram atraídos na Argentina por um agente infiltrado do Exército. Cinco foram assassinados e enterrados no quilômetro seis da estrada (pede-se à comissão para que eles sejam encontrados e tenham um enterro digno). O sexto foi morto no dia seguinte e seu corpo estaria hoje debaixo do Lago de Itaipu, em Foz.

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