As irmãs Letícia e Rebeca, de 8 e 9 anos, têm tido dificuldade em se adaptar com o português. Os pais Marcela e José Luiz investem em atividades extras para aumentar o contato com o idioma
IDIOMAO português na opinião de quem vem de fora
Exceções, regências e conjugações verbais da língua portuguesa estão entre os principais obstáculos para o estrangeiro.
Mesmo com as dificuldades, o português está em alta entre os estrangeiros. A descoberta do idioma ocorre em cursos no país de origem ou em escolas brasileiras. A vinda ao país devido a uma oportunidade de trabalho faz deste o empurrão inicial de grande parte dos estudantes, sejam adultos ou crianças que acompanharam os pais. No primeiro semestre deste ano, quase 33 mil estrangeiros foram autorizados a trabalhar no Brasil, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego.
Curiosidades
O português é a quinta língua mais falada no mundo. Confira algumas curiosidades sobre o processo de aprendizado do idioma para os estrangeiros:
Proficiência
Para conseguir o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa, estrangeiros são submetidos a um exame aplicado pelo Inep.
Mais diretos
Os pronomes pessoais tu e vós não ganham destaque nas aulas. São estudados eu, você/ele/a gente, nós e vocês/eles.
Sons nasais
O português possui muitos sons nasais. Vogais e ditongos nasais, como “ã”, “om”, “ãe” e “em”, podem ser mais difíceis de serem pronunciados.
Expressões populares
Sem explicações, expressões comuns no nosso dia a dia podem causar confusão no aluno, como “cabeça de vento”, “dar com a língua nos dentes”, “ter as costas quentes”, “chutar o balde”.
Vocabulário traiçoeiro
Considerando falantes de línguas latinas, além do cuidado com as novas pronúncias que são exigidas, como nas palavras “avô” e “avó”, o vocabulário pede atenção. Palavras similares têm significado diferente, como “embaraçada”, grávida em espanhol.
Fonte: Redação, com especialistas entrevistados e coleção didática “Viva!”, lançada recentemente pela Editora Positivo.
Acostumado a ensinar português a estrangeiros, Leandro Alves Diniz, professor de Língua Portuguesa da Unila, diz que o idioma é tão complexo e rico como qualquer outro. “Costumo brincar que nosso idioma é tão fácil que uma criança brasileira com cinco anos fala superbem e que ele é tão difícil que qualquer um de nós que tentar explicar como o português funciona não vai conseguir”, diz.
Conforme a professora Zélia Torres de Albuquerque, do Colégio Internacional de Curitiba, a nacionalidade de cada pessoa geralmente interfere na forma de aprender. “Se temos um aluno latino, o aprendizado do português é mais rápido. Com um americano, alemão ou japonês, é mais demorado. Mas cada aluno é um caso e tem o seu momento de absorção da língua em estudo.”
Para a intercambista finlandesa Anniina Tahka, 16 anos, há três meses no Brasil, o aprendizado do português tem sido mais complexo. “O português está sendo o mais difícil. Por enquanto, eu assisto às aulas, mas fico só ouvindo. Acabo misturando muito os outros idiomas”, conta a jovem, que já domina o sueco e o inglês.
Tempo de estudo
Diniz afirma que é difícil precisar o tempo que alguém leva para aprender o português. “Depende da motivação, da relação do aluno com a língua, se ele está imerso no contexto ou se está no Brasil”, explica. Ele diz que algumas pessoas podem falar e escrever bem em um ano e outras podem morar anos no Brasil e se acomodar com o básico do idioma.
Há dois anos no Brasil, o norte-americano Dallin Cordon, 15 anos, ainda dá escorregadas no português. Ele diz que é difícil saber onde termina uma palavra e começa outra e considera a conjugação de verbos a parte mais complicada. A ajuda da mãe, que havia passado um tempo em Portugal, foi muito importante para a adaptação. “Minha mãe falava as palavras bem devagar e eu repetia para outras pessoas”, diz.
Adaptação
Cultura e arte além do beabá
A tendência no ensino de idiomas estrangeiros é de que ele seja entendido mais como um contato com culturas diversas do que como um código a ser dominado. Por aqui, o ensino da língua portuguesa está vinculado à cultura brasileira, com seus aspectos sociais, históricos e culturais. O japonês Tatsuro Murakami, 17 anos, conta que sempre quis vir para o Brasil por causa da música brasileira. “Quero conhecer a música de países diferentes e achei que seria legal vir ao Brasil para fugir do comum”, conta o jovem, que cursa o ensino médio no Colégio Opet.
Depois de mais de dez anos nos Estados Unidos, Marcela e José Luiz Andrade resolveram voltar ao Brasil. Uma boa proposta de emprego tornou a mudança atrativa para o casal, mas as duas filhas não estão convencidas. Há sete meses, Rebeca, 9 anos, e Letícia, 8 anos, estão matriculadas no Colégio Positivo e, mesmo tendo crescido com a mãe falando português em casa, a adaptação no Brasil não está nada fácil. “Elas dizem que estão esperando completarem 18 anos para voltar para a sweet home (doce lar)”, conta a mãe.
Como a família pretende ficar no Brasil, Rebeca e Letícia precisarão de uma dose extra de motivação e de incentivo dos pais para dominarem o português. A mãe busca reforço em português e, enquanto isso, fora da escola é hora de assistir a filmes, ler livros e maximizar o contato com a língua, assim como é recomendado a qualquer brasileiro que quer aprender um idioma estrangeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário