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domingo, 25 de novembro de 2012

Machões de Cozinha!!!!! Diga não!


André Rodrigues / Gazeta do Povo / Phillipe Trindade, 23 anos, e Beatriz Moreira, 24 anos, assumem que ambos são controladores, mas o casal garante que está decidido a mudar e a ser mais flexívelPhillipe Trindade, 23 anos, e Beatriz Moreira, 24 anos, assumem que ambos são controladores, mas o casal garante que está decidido a mudar e a ser mais flexível
ESPECIAL

Controlador nunca mais

Querer ter controle sobre tudo causa sofrimento e pode indicar problemas de insegurança e auto-estima. Mas, se encaradas as dificuldades, a superação traz crescimento, independência e realização.
Quem convive com uma pessoa controladora sabe como pode ser difícil uma relação, seja entre casais, pais e filhos ou colegas de trabalho. Preocupados em manter tudo em uma ordem exagerada, o controlador ignora opiniões diferentes e tem sérias dificuldades em delegar tarefas ou trabalhar em grupo. A justificativa, normalmente, é a mesma: “as pessoas não fazem as tarefas como devem ser feitas”. Por isso, os controladores têm uma tendência inconsciente de se preocupar demais em criar regras, que normalmente viram referência de julgamento para avaliar e controlar tudo e todos ao seu redor. “Essas características tornam o controlador muito inflexível. Mas eles não são tão egoístas quanto pinta o estereótipo, que diz que eles usam as pessoas para satisfazer seus próprios interesses”, afirma a psicoterapeuta Eneida Ludgero.
Por trás do comportamento controlador, uma pessoa com este perfil tem um interesse sincero de gerar bem-estar e evitar problemas para si e para os outros. “Inconscientemente, grande parte dos indivíduos com esse tipo de personalidade possui problemas mais profundos e age em defesa própria, principalmente por insegurança e por dificuldade de lidar com frustrações”, garante Eneida. “Eles pensam: se eu cuidar de tudo e antever as situações, imprevistos não me pegarão de surpresa”, diz.
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Reflita e mude
Mas como saber se você é controlador? Segundo especialistas, é preciso refletir sobre suas atitudes e sobre os motivos de discussões no trabalho ou em casa. Além disso, pergunte às pessoas ao seu redor. Esse pode ser o melhor termômetro. Confira alguns passos que podem ajudá-lo a tornar-se mais democrático:
1. Inicialmente, é preciso que a pessoa assuma que é um controlador. Lembre-se de que existem diferentes graus do comportamento e que todos podem ser tratados.
2. Procure ajuda especializada para um tratamento mais eficaz.
3. Tente compreender que não cabe só a você decidir sobre as situações da vida.
4. Tente ser mais flexível. O mundo é múltiplo e cada um tem sua opinião.
5. Para deixar de ser controlador, trabalhe na origem do problema: na sua insegurança ou falta de autoestima. Praticar esportes ajuda no período de transição.
Serviço
Antonio Vitorino Cardoso Neto, psicólogo, fone (41) 3234-1616.
Eneida Ludgero, psicoterapeuta, fone (41) 3336-1220.
Dionisio Banaszewski, psicólogo, fone (41) 3264-2161.
Mas os psicólogos são unânimes: essa defesa construída pelos controladores é uma ilusão. “A vida não nos dá garantia de nada. Ninguém tem controle sobre as situações. Temos apenas um controle tênue sobre as coisas e as pessoas. Daí surge a necessidade de aprender a lidar com frustrações e imprevistos”, desmistifica o psicólogo Antonio Vitorino Cardoso Neto, que leciona na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Tomar consciência desse fato é um passo difícil, porém crucial para a mudança de comportamento, defende Cardoso Neto. Um exemplo claro da importância dessa percepção está em uma tradicional história do zen budismo japonês, que conta que, certa vez, dois pequenos grupos de monges brigavam pela posse de um gatinho que aparecera no mosteiro. De repente, o superior do monastério chegou, levantou o gato com uma mão e, com a outra, dividiu o animal em dois, matando-o e entregando uma metade para cada grupo. Esse simples gesto, embora doloroso, funciona como um lembrete bastante eficaz sobre a ilusão humana de propriedade e controle.
Sofrimento duplo
Nesse jogo diário de controlador e controlado, ambos sofrem. “Além de possíveis conflitos e discussões que desgastam as relações, o controlador sofre por desejar algo impossível. Mas a pessoa controlada também sofre, por não poder traçar seu próprio caminho”, diz o psicólogo Dionisio Banaszewski.
No livro Como Lidar com Pessoas que te Deixam Louco, o especialista norte-americano em Psicologia Clínica, Paul Hauck, detalha o que se passa com alguém que mora ou trabalha com um controlador. “Primeiro, você vai perder sua autoconfiança. Depois, vai deixar que mandem em você até se sentir abatido. Em vez de enfrentar esses ditadores, vai aprender a ficar calado. O resultado emocional geralmente vem em forma de depressão, medo e raiva”, escreve o psicólogo.
O casal de estudantes Phillipe Trindade, 23 anos, e Beatriz Moreira, 24 anos, ambos controladores confessos, perceberam quanto mal causavam a eles mesmos e aos outros e juntos decidiram mudar. “Durante toda minha vida, eu me construí como controlador. Mas só percebi o desconforto que eu gerava em amigos e familiares depois de alguns desgastes na família e do alerta de amigos”, conta Trindade. “Desde então, tenho me tornado mais democrático. É uma reconstrução diária”, completa.
Com Beatriz é um pouco diferente. “Desde pequena, eu tento controlar e centralizar tudo: da minha própria agenda à agenda da empregada. Mas eu me cansei. Ajudar todos o tempo todo é muito desgastante, principalmente para mim. Por isso, agora estou tentando mudar”, promete a estudante.
Segundo Banaszewski, o primeiro grande passo para deixar de ser controlador é admitir a condição de manipulador. “Quem admite que é controlador e procura a ajuda de um especialista qualificado está a meio caminho da superação”, salienta o psicólogo. A partir de então, tornar-se mais democrático vira um desafio diário de olhar a vida com mais leveza, de ter flexibilidade para lidar com os tropeços e de trabalhar a autoconfiança.
Homens x Mulheres
É senso comum que as mulheres são mais controladoras que os homens. Mas essa ideia encontraria respaldo científico? Não, de acordo com a psicoterapeuta Eneida Ludgero. “Ao contrário do que se pensa, homens e mulheres podem ser igualmente controladores”, explica Eneida.
Embora tenham comportamentos gerais bem diferentes, eles agem similarmente quando se trata de controlar. “Basta observar o exemplo dos ciúmes em relacionamentos a dois. Muitos ciumentos são controladores inveterados e tanto homens quanto mulheres acabam no erro de bisbilhotar a vida do parceiro(a), verificando inclusive as mensagens do celular do outro, por pura insegurança”, lembra a psicoterapeuta.
Como lidar com quem te deixa louco
Os especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que não existe receita ideal de como lidar com controladores. Cada caso é um caso. Mas eles têm dicas valiosas para uma convivência mais saudável com controladores, seja no trabalho, entre cônjuges ou entre pais e filhos. Confira:
• Você precisa mudar – Pare de ser excessivamente passivo(a) e evite o jogo controlador(a)-controlado(a). Até agora, você recompensou o comportamento manipulador da pessoa e isso fez com que ela ficasse cada vez mais controladora.
• A conversa é o melhor remédio – Discuta a situação com o controlador e exponha seus sentimentos. Se não adiantar, procure ajuda especializada e aja de maneira diferente, condicionando o controlador a mudar suas atitudes.
• Sem ressentimentos – Seja determinado na mudança e defenda suas opiniões sem brigas. Cultivar raiva ou ressentimentos também de nada adianta. Lembre-se de que os controladores também sofrem.
• Não espere muito para protestar – Ao perceber o comportamento controlador de alguém, não aguarde muito tempo para confrontá-lo. De outra forma, ele irá se acostumar a lhe dar ordens e vocês se entrarão no tão temido jogo controlador-controlado.

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